Havia um cheiro preciso nessas cabines.
Uma mistura de diesel, tapete superaquecido, plástico do painel cozido ao sol e tabaco que provava das noites passadas em claro.
Tudo o que você precisava fazer era entrar, e esse perfume o recebia como um velho amigo que não faz perguntas.
Mapas de viagem, maços de cigarros do mundo inteiro, amuletos e bandeiras penduradas com o tecido sobre o painel.
Pequenas superstições para afastar o cansaço, a saudade e o pensamento do retorno.
Havia aqueles que dirigiam olhando para a frente, e aqueles que às vezes se perdiam no retrovisor lateral, como se procurassem a vida que deixaram para trás.
A estrada ainda era ruidosa e rápida.
Era o tempo, ele esperava — é essa lentidão que te ensinava a refletir... ou a parar de fazê-lo.
Cada curva tinha o seu som, cada nascer do sol uma promessa.
E quando partias, nunca sabias se estavas a partir ou apenas a regressar a ti mesmo.
Hoje resta uma imagem de calma e de luta.
Mas quem a viveu sabe:
Aquela cabine não era nem uma casa nem um trabalho.
Era um pedaço de vida que seguia em movimento, como o motor — pelo menos nas noites de inverno.
Fonte:Motoristas Do Asfalto

